"As mudanças climáticas se devem, não única, mas principalmente à ação do homem", afirma Saulo Rodrigues Pereira Filho, professor e coordenador de Ensino do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB). Segundo o especialista, desde a primeira Revolução Industrial, no século XVIII, houve o crescimento da temperatura média do planeta, o que já causou o derretimento de 25% do polo norte. A grande questão é a emissão dos gases de efeito estufa (GEE) dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e os perfluorcarbonetos (PFC's) na atmosfera terrestre. Das emissões globais, três quartos têm origem na queima de combustíveis fósseis para usos variados, e a fração restante é originada pelo desmatamento.
No Brasil, no entanto, essa relação se inverte. "Aqui, 75% dos gases vêm do desmatamento e apenas 25% do uso dos combustíveis fósseis", afirma Pereira. A grande vilã brasileira é a fronteira de ocupação agrícola, que se estende em direção à Amazônia. A floresta e o cerrado dão lugar à soja, à cana de açúcar, à pecuária e, assim, ao aquecimento global. Essa inversão também ocorre na Indonésia, na Malásia e nos países africanos, que têm sua economia dependente da produção de bens primários. A seu favor, o Brasil também tem o fato de poupar petróleo e carvão ao optar por fontes mais limpas de energia, como hidrelétricas, e o incentivo ao uso de etanol nos carros.
Medição eficiente dos impactos é recente
É fácil apontar os erros cometidos pelos homens, mas ainda não se pode quantificar exatamente a parcela dessas ações no processo de variação do clima. Para Modesto Guedes Ferreira Júnior, professor do curso de engenharia ambiental da Universidade Estácio de Sá. "Além de os registros não serem feitos com tanta eficiência no passado, hoje existe consciência muito maior do que está ocorrendo. O terremoto no Japão, por exemplo, foi acompanhado pelo mundo todo quase em tempo real", explica.
O registro das temperaturas, explica Mozar de Araújo Salvador, meteorologista da Coordenação Geral de Desenvolvimento e Pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é feito por meio de termômetros nas estações meteorológicas em todo o mundo, e suas leituras são feitas sempre nos mesmos horários padronizados pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM). Como há várias décadas o tipo de instrumento e a metodologia de coleta de dados são as mesmas nos países associados a OMM, não seria correto dizer que as alterações climáticas registradas hoje devem-se a novas tecnologias. "As variações climáticas são naturais, com anos mais quentes e outros mais amenos. Especificamente no Sul do Brasil, temos observado ao longo dos anos que há uma forte flutuação ano a ano", afirma Salvador. Para o meteorologista, para se afirmar com precisão se existe uma tendência de elevação nas temperaturas e quantificá-la, seria necessária uma investigação específica com os dados dessa região.
A avaliação, afirma o pesquisador da UnB, deve ser feita tomando-se como base milhares de anos. "Não basta olhar os últimos cinco, 10 nem 100 anos. Trata-se de um exame rigoroso das eras geológicas da Terra, desde o começo dela, o que chamamos de estudos paleoclimáticos", afirma. Para se analisar o clima, deve-se levar em conta o passado histórico, para conseguir enxergar um padrão e poder afirmar o que seja uma anomalia climática ou não.
Reforço na educação
Embora a discussão ainda esteja quente no meio científico, o professor de geografia e mestre em educação Francisco Djacyr Silva de Souza, autor do livro Preservação do ambiente: uma ação de cidadania, acredita que os alertas ecológicos foram dados, mas acabaram ignorados pelos governantes. Para ele, o sistema acaba promovendo o uso excessivo dos recursos naturais que desencadeiam poluição, destruição de ecossistemas, desaparecimentos de mananciais, retirada da cobertura vegetal e diminuição da área verde. "É preciso mudar urgentemente nossa mentalidade em relação ao planeta. É preciso ouvir as mensagens que o próprio planeta nos está dando e que muitos não ouvem ou fingem que não ouvem", avalia.
Por outro lado, para Pereira, o caminho passa por uma repensada de atitude de todos os indivíduos, não só do poder público: "economia verde não basta, temos também que rever nossos padrões de consumo". Paralelamente ao desenvolvimento de novas tecnologias que permitam a maior eficiência no uso de energia, segundo o pesquisador, a sociedade precisa reavaliar suas atitudes. Uma vez que o consumo é muito impactante para o equilíbrio climático, o conselho é priorizar bens imateriais como opções aos produtos poluentes. Prefira investir na sua educação a comprar um carro, e faça bem para o planeta, afirma o pesquisador.
Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra